Foto Capa: Gabryella Dias
A noite de sábado (31) foi de celebração da história viva entre a Nenê de Vila Matilde e o carnaval da cidade de São Paulo. Esta cidade que assistiu a trajetória da tradicional azul e branca da Zona Leste. Em uma festa com feijoada, homenagens e a presença de representantes da Escola de Samba Barroca Zona Sul, a Águia Guerreira revelou o enredo com que vai pisar forte no Anhembi em 2026: “Encruzas: Nenê de Corpo e Alma no Coração de São Paulo”.
A proposta é mais que um tema: é um retorno às raízes, um olhar para os caminhos espirituais, urbanos e culturais que atravessam a capital paulista. Em cada esquina da cidade, uma encruzilhada, um encontro de histórias, de fé, de resistência.
Tiganá: chegada com respeito ao Carnaval

Interprete Tiguaná (Foto: Gabryella Dias)
A outra grande novidade da noite foi a apresentação de Tiganá como novo intérprete oficial da Nenê. Com uma carreira marcada por passagens em escolas tradicionais, o cantor assume o microfone da azul e branca da Zona Leste.
Durante a entrevista ao Sintonia de Bambas, Tiganá se emocionou ao revelar o cuidado e o respeito que teve ao aceitar o convite. “Quando o presidente me ligou, eu nem acreditei. A gente marcou de conversar, mas pra ser sincero, eu ainda não tava acreditando. E, antes mesmo de sentar pra falar, já fui direto perguntar do Agnaldo (antigo interprete da Escola) — queria saber se ele ainda estava na escola. Porque na nossa área, como cantor, a gente tem esse cuidado. Quando o presidente de uma escola te procura, a primeira coisa que a gente faz é entender como está a situação do cantor que tá lá. Justamente pra não gerar nenhum mal-estar, nenhum conflito. Ainda mais quando a gente é amigo, né?” – afirmou, ressaltando a ética e a irmandade entre os profissionais do samba.
Ele reforçou o carinho que tem pelas escolas tradicionais e a felicidade por estar na Nenê:
“Agradeço a Deus, ao Papai do Céu, aos Orixás… porque eles sempre colocam no meu caminho escolas de samba tradicionais. E agora é mais uma. Uma das mais tradicionais, mais queridas do carnaval de São Paulo: a Nenê de Vila Matilde. Vai ter entrega, vai ter dedicação. Eu tenho vontade de ensaiar, de estar presente. Eu gosto mesmo de estar junto com a bateria. Quando tem ensaio e eu tô em São Paulo. Ligo pro Matheus direto! A comunidade da Vila Matilde pode esperar um Tiguaná diferente. O que depender de mim, não vai faltar empenho. Meu foco é um só: ajudar a Nenê a voltar para o Grupo Especial.”
Encruzilhadas que contam histórias

Logo oficial do Enredo 2026
Com forte inspiração na canção “Sampa”, de Caetano Veloso, eternizada como hino não oficial da cidade, o enredo parte do sentimento de se reconhecer em meio à diversidade de São Paulo. O vídeo de anúncio do tema foi gravado no simbólico Bar Brahma, localizado na famosa esquina da Avenida Ipiranga com a Avenida São João, onde Tiganá, novo intérprete oficial da escola, apresentou sua versão da música em voz e violão.
Essa mesma Avenida São João já foi o berço do carnaval oficial paulistano. O primeiro Carnaval oficial de São Paulo ocorreu em 1968, embora os desfiles já acontecessem antes. A escola campeã foi a Nenê de Vila Matilde. A Nenê, naquele ano, iniciou a conquista do seu segundo tricampeonato no Carnaval (1968, 1969 e 1970), obteve seu sétimo título entre os 11 que possuí e, hoje, é a grande campeã do Carnaval SP no século XX.
O enredo propõe mais do que a evocação das encruzas como elementos religiosos — onde se prestam oferendas a Exu e Pomba Gira —, ele aborda esses espaços como lugares simbólicos de passagem, onde São Paulo se revela múltipla, espiritual, urbana e ancestral.
A São Paulo da Nenê
Desde os tempos em que desfilava na Avenida São João, passando pela Avenida Tiradentes e, hoje, desfilando no Sambódromo do Anhembi, a Nenê é parte inseparável da história do carnaval paulistano. Fundada em 1949, a escola foi protagonista de décadas gloriosas e referência nacional no samba.
A Nenê de Vila Matilde será a 5ª escola a desfilar pelo Grupo de Acesso 1 em 2026, e deixa a promessa de honra com a herança da sua história, com a força de uma comunidade que canta com fé, pisa com ancestralidade e ama profundamente o Carnaval SP.
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