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Terceiro Milênio mantém vivo o ritmo da tradição no Carnaval 2024

A Estrela do Terceiro Milênio promete resgatar tradições e celebrar a riqueza da oralidade sobre a cultura do povo negro para cativar não apenas o público, mas promover um mergulho no conhecimento sobre as raízes das religiões afro-brasileiras.

por Josy Dinorah
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No Carnaval de 2024, a Escola Estrela do Terceiro Milênio promete encantar mais uma vez no Grupo de Acesso I na busca por uma vaga no Grupo Especial com um Enredo que resgata tradições, mitos e valores culturais africanos. O Enredo Vovó Cici conta e o Grajaú canta: O Mito da Criação”, é uma narrativa em terceira pessoa que vai destacar a figura cativante de Vovó Cici de Oxalá, uma contadora de histórias afro-brasileiras que conquista a todos com sua sabedoria e sensibilidade sobre a nossa cultura ancestral.

A protagonista dessa história é Nancy de Souza e Silva, uma carioca cativante e que exerce a função de Egbomi do Terreiro Ilê Axé Opô Aganju em Salvador, Bahia. Mais conhecida como Vovó Cici, ela se tornou um ícone na preservação da cultura afro-brasileira e sua rica tradição da oralidade ao usar sua voz calma e tom lúcido para promover conhecimento e acolhimento em sua comunidade, na televisão e nas redes sociais.

Sem se limitar apenas à tradição oral, o Enredo da Comunidade do Grajaú vai destacar a capacidade do Carnaval de ser um veículo para preservar e disseminar histórias que fazem parte da rica herança cultural africana e suas religiões. A proposta é construir identidades e fortalecer os laços culturais, utilizando o desfile da Agremiação como uma porta de entrada para o conhecimento e promover uma educação antirracista através da arte.

À frente da Bateria Pegada da Coruja desde o final do Carnaval de 2019, o Mestre Velloso é uma figura fundamental nessa jornada. Em uma entrevista exclusiva ao Sintonia de Bambas, ele ressaltou o seu papel no Carnaval como fonte de contribuição e inspiração para as futuras gerações. Para Velloso, a prática da percussão e da música é uma oportunidade contínua de crescimento da cultura negra dentro da quadra da Escola. Como praticante do candomblé, o Mestre Velloso ainda destaca a afinidade natural entre as religiões afro-brasileiras e o Carnaval, enfatizando a representatividade negra como elemento fundamental. Ele acredita que a expressão artística dos desfiles é uma poderosa ferramenta para promover a compreensão e valorização da cultura milenar africana.

O enredo 2024 da Terceiro Milênio irá contribuir na representação e valorização de uma personagem central e muito importante do Brasil, a Vovó Cici, uma influencer ancestral e que resgata nossa cultura pelas mídias sociais. Como é tocar e conduzir a bateria no decorrer do desfile para uma figura tão especial?

 “É muito gratificante para mim conduzir o coração da Escola em uma homenagem a alguém tão especial para o candomblé. Um ser que é tão conhecido por trazer histórias tão presentes em nossa religião e que, através desse lindo trabalho que a Terceiro Milênio fará, uma das muitas histórias que ela conta será conhecida por diversas pessoas, inclusive aquelas que não têm contato com o candomblé.”

Como o seu conhecimento sobre a cultura negra influencia sua participação dentro de uma comunidade do Carnaval e como você, como Mestre de Bateria, enxerga a sua contribuição para a preservação dessas tradições culturais?

 “É necessário entender que o Carnaval, as religiões de matriz africana e o povo negro não são assuntos distintos. O candomblé e o Carnaval são transmitidos de geração em geração, construídos pelo povo negro. Eu parto desse princípio para conduzir o meu trabalho e compreender que a minha imagem hoje, e o que eu construo, deve honrar o solo pelo qual essas pessoas tanto lutaram para que pudéssemos ocupar esse espaço. Chamamos isso de ancestralidade… E ela deve ser honrada!

 Entendo que a minha contribuição está em manter viva a chama que foi acesa há tantos anos, passada dos nossos mais velhos para nós e de nós para as futuras gerações. Novamente, o candomblé se relaciona com o Carnaval, pois, ao contrário de muitas religiões, o nosso conhecimento se constrói na oralidade, na vivência. Não seguimos um livro específico com regras, e o mesmo acontece com o Carnaval.

 Veja só: você observa um filho acompanhando seu pai em um ensaio, vendo-o tocar um instrumento, e nota que ele quer fazer aquilo. Ele se espelha nesse exemplo, deseja seguir pelo que ouve, pelo que vê, e assim conseguimos difundir e manter viva a nossa cultura. Essa é a minha missão e a minha contribuição: inspirar, proporcionar oportunidades para que a nossa cultura possa crescer.”

Soube que você é um excelente Ogã, como você se organiza ao longo do ano para preparar o desfile e conseguir participar dos rituais religiosos?

 “Primeiramente, gostaria de agradecer pelo elogio e expressar que tenho muito a aprender para poder contribuir com o Candomblé e o Axé, nos quais me encontro hoje. Sou um eterno aluno dentro da religião. Em relação à forma como me organizo, busco ser transparente com o sacerdote/sacerdotisa da casa, explicando sobre a minha rotina e o meu trabalho para verificar se condiz com as diretrizes do terreiro. Cumpro com as minhas obrigações como filho de santo, como ogã, como devoto dos Voduns, auxiliando no que for necessário, protegendo-me conforme devo e seguindo alguns preceitos, se necessário.”

Com tantas mudanças na estrutura nos ritmos, você acredita que ainda será possível ver contribuições e influências das religiões afro-brasileiras dentro da formar como renovar os ciclos de músicos dentro de uma bateria? Ou você enxerga outras questões a serem um desafio quando falamos de religião dentro da Escola de Samba?

“Sem sombra de dúvidas, as religiões afro-brasileiras têm uma influência significativa na cultura das Escolas de Samba e na formação das baterias. Elas contribuíram e contribuem para a construção e riqueza dos ritmos. Entretanto, existem desafios, como o respeito às crenças individuais e a preservação da autenticidade cultural e rítmica, para que não se torne o ‘mais do mesmo’, fato esse que precisa se manter em equilíbrio. O mais importante é encontrar maneiras de manter essa conexão cultural e espiritual, ao mesmo tempo em que evoluímos e abraçamos mudanças na música e na dinâmica das Escolas de Samba.”

Como você resume sua história na Terceiro?

“Cheguei à Escola ao final do carnaval de 2019, onde, logo de início, percebi a expectativa e, ao mesmo tempo, a confiança que a Diretoria e a Presidência depositavam em mim. Sou um cara que foca muito na construção e na necessidade de ter uma bateria sólida, com base na casa e nos arredores da Escola. Por isso, tenho investido na formação de ritmistas em todos os naipes por meio da escolinha de bateria.

Hoje, vejo o trabalho com maior maturidade. Estamos colhendo os frutos desse esforço árduo, pois, como em qualquer outra profissão, enfrentamos dificuldades e defasagens, tanto eu quanto a minha Diretoria. Essas são situações que tentamos ao máximo sanar até o dia do desfile. O resultado tem surtido efeito até hoje. Estamos contentes com o nosso trabalho, e eu me sinto orgulhoso do caminho que percorremos até aqui.”

Foto Divulgação: Acervo da Escola

Os ritmistas da Estrela do Terceiro Milênio apresentarão uma nova camiseta para o Carnaval SP durante o lançamento do CD da Liga das Escolas de Samba no dia 02 de dezembro (sábado). A arte da camiseta que traz o Orixá Exú foi desenvolvida pelo artista plástico, grafiteiro e designer Vinícius Targa e que compõe uma coleção do artista sobre os orixás. A escolha da estampa foi feita pelo Mestre da Bateria Vitor Velloso, após uma sugestão da imagem realizada pelo Intérprete Darlan Alves. A ideia visa promover a conscientização para combater estereótipos e preconceitos religiosos referente a imagem do Orixá guardião do “povo da rua”.

 Quer conferir o resultado dessa ação e curtir o lançamento dos Sambas de Enredo do Carnaval SP 2024?

A festa de lançamento dos Sambas Enredos do Carnaval SP 2024 terá início às 14h, na Fábrica do Samba, com uma animada Roda de Samba. Em seguida, acontece os desfiles compactos das Escolas de Samba dos Grupos de Acesso 1 e 2, além das integrantes do Grupo Especial. Os ingressos estão disponíveis por R$ 25 e incluem o álbum físico com as gravações oficiais dos sambas.

Para garantir sua presença, adquira os ingressos pelo site www.clubedoingresso.com ou na bilheteria física da Fábrica do Samba, na Av. Dr. Abraão Ribeiro – 505, de segunda a sexta, das 10h às 16h. Além disso, haverá venda de ingressos no dia do evento.

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1 Comentário

Vovó Cici conta e o Grajaú canta o mito da criação - Sintonia de Bambas 12 de fevereiro de 2024 - 05:40

[…] Vovó Cici de Oxalá, presente no primeiro carro da escola, a bateria Pegada da Coruja, do mestre Vitor Velloso e as vozes potentes dos Intérpretes Grazzi Brasil e Darlan Alves, ecoaram pelo Anhembi a beleza de […]

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