Home Crônica 13 de maio: um convite para se revisitar a história de uma luta antirracista com o olhar do Carnaval

13 de maio: um convite para se revisitar a história de uma luta antirracista com o olhar do Carnaval

Para além da festa, o Carnaval é uma forma de resgatar a verdadeira história de resistência e de luta pela valorização da população negra em um país que insiste em reforçar a imagem de uma princesa que não libertou o povo do racismo, da marginalização e da miséria por séculos de escravidão.

por Josy Dinorah
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Foto: Nelson Gariba

“Será que já raiou a liberdade, ou  foi tudo ilusão?” cantou o Carnaval em seu serviço de auto falante durante um desfile na avenida e, nas alegorias criadas no Morro de Mangueira. Segundo a história, estávamos comemorando 100 anos da Lei Áurea e algumas pessoas em nossa sociedade voltaram a discutir e muitos a entender que o samba e o carnaval gritavam novamente contra um sistema que persiste em interpretar figuras como a princesa Isabel como heroína que magicamente, com sua assinatura, deu fim ao trabalho escravo no Brasil. Mais uma fakenews que foi espalhada por movimentos políticos no País.

O Carnaval é festa, sem dúvidas! Mas não apenas isso, ele representa a arte, a cultura e a história de um Brasil construído sob a forja da diáspora africana, sendo o enredo, muitas vezes, uma ruptura dos preconceitos e narrativas distorcidas de um projeto abolicionista que culmina no dia 13 de maio.

>> Aqui, trouxemos três sambas que fazem refletir a evolução do tema na avenida:

Com ‘Casa Grande e Senzala’ (1956), a Nenê de Vila Matilde canta uma das facetas da escravidão tendo como foco o banzo – termo utilizado pelos africanos no período da escravidão para expressar a saudade da terra natal.

A Unidos de Lucas , em 1968, nos tempos de Ditadura, trouxe o tema escravidão para o Carnaval com o enredo História do Negro no Brasil’, conhecido como ‘Sublime Pergaminho’.

E fechamos com o trecho: “Não é brinquedo de Isabel”, onde a Unidos do Peruche, em 1988, com o Enredo ‘Filhos da Mãe Preta’ entoa um tom mais crítico as comemorações do 13 de maio.

Em um país forjado no viés crescente da escravidão de povos indígenas, que substituído pela rentabilidade do corpo negro no trabalho pesado, na prostituição e na manutenção de um mercado escravocrata cruel, sanguinário e ‘abençoado’ pela igreja, com homens, mulheres, crianças mortas, açoitadas e jogadas no mar por anos. Reis, rainhas, comunidades e tribos inteiras apagadas e esquecidas ao se contar a história, tudo por conta da uma cor retinta e, depois, ‘miscigenada’ por ideais de embranquecimento. São essas pessoas e sua herança ancestral que se tornaram filhos deste solo, que nunca foi gentil.

Não é de hoje, que pressões internacionais e ideias libertárias atravessam fronteiras para implantar em cabeças da branquitude, a possibilidade que ao se escravizar pessoas, marginalizar e tratar com desdém essa parte da população brasileira torna o mercado cada dia menos rentável e surgem estratégias de imagem meramente ilustrativa que nem sempre é benéfica para o povo.

Não há muito para se comemorar ou celebrar no 13 de maio, mas essa noção é recente. Fomos forjados na compreensão, como instinto de gratidão para atos romantizados pelos livros de história e pela mídia em geral. Crescemos com a imagem de que uma princesa, num ato generoso e na grandiosidade da elite brasileira, que libertou um povo do horror da escravidão. Desse lado da história, continuamos brigando pela valorização da cultura negra, a inclusão social e a luta antirracista com um Carnaval, que traz na avenida, seu papel de crítica social contra a herança de um sistema escravista para mostrar as múltiplas faces da resistência e contar “A história que a história não conta”.

 

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